Pode afetar o desenvolvimento do seu filho, mas não da maneira que você imagina.
Atualmente, a tecnologia está mudando o nosso mundo. Pode-se argumentar que ela está até mudando nossas crianças.
Política de Publicidade
A Cleveland Clinic é um centro médico acadêmico sem fins lucrativos. A publicidade em nosso site ajuda a apoiar nossa missão. Não endossamos produtos ou serviços não pertencentes à Cleveland Clinic. Política
As crianças frequentemente usam mídia digital, especialmente jogos e redes sociais. A tecnologia é envolvente, cheia de cores e interatividade – e, embora isso possa oferecer alguns benefícios, também levanta preocupações e perguntas.
A principal questão que surge, especialmente para pais exasperados tentando romper o controle das telas e dispositivos: muito tempo de tela pode tornar as crianças mais propensas a apresentar sintomas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
O TDAH, embora seja um transtorno comum, possui muitas nuances. Não significa apenas que alguém se distrai facilmente. O especialista em saúde comportamental pediátrica, Dr. Michael Manos, PhD, explica que o TDAH é uma predisposição genética caracterizada por comportamentos específicos de hiperatividade e impulsividade, envolvendo diferenças físicas no cérebro.
De acordo com o Dr. Manos, ainda não há evidências suficientes para apoiar uma ligação clara de causa e efeito entre o uso excessivo de tecnologia em crianças e o TDAH. Mas o uso da tecnologia tem um impacto comportamental. “O uso frequente de tecnologia afeta como nos comportamos e nos relacionamos uns com os outros”, ele acrescenta.
Muito uso de tecnologia causa TDAH?
Uma das maiores questões na mente dos pais e cuidadores quando veem seus filhos jogando videogames por horas ou olhando para seus iPads é: o uso frequente de mídia digital pode reduzir a capacidade de atenção do meu filho? Pode torná-los mais facilmente distraídos?
Um estudo de 2018 teve como objetivo explorar essa questão. O estudo analisou 2.587 estudantes do ensino médio que não foram diagnosticados com TDAH. Os alunos foram questionados sobre quanto tempo passavam em mídias digitais, incluindo redes sociais.
Os pesquisadores descobriram que os estudantes que relataram usar mídia digital várias vezes ao dia eram mais propensos do que seus colegas a apresentar os seguintes sintomas:
- Desatenção, como dificuldade em organizar e completar tarefas.
- Hiperatividade-impulsividade, como dificuldade em ficar parado.
Esses resultados parecem significativos, mas o Dr. Manos nos alerta a não tirarmos conclusões precipitadas. “Isso significa que muito tempo jogando ou comentando no Facebook pode causar TDAH em crianças? Absolutamente não. Mas essas atividades podem causar sintomas semelhantes aos do TDAH, embora não possam causar o TDAH em si”, ele diz.
A palavra-chave aqui é “semelhantes”. Em outras palavras, o uso frequente de mídia digital pode trazer à tona sintomas latentes ou criar comportamentos que se assemelham ao TDAH. O problema não é a mídia digital em si, mas o fato de que ela cria uma sobrecarga desorientadora na atenção de uma pessoa.
Como o tempo de tela afeta o desenvolvimento e as habilidades sociais de uma criança
Portanto, embora o uso de redes sociais e dispositivos possa não causar diretamente TDAH, isso não significa que não afete a capacidade de atenção e o desenvolvimento geral do seu filho. E, como o Dr. Manos destaca, nossa capacidade de atenção está intimamente ligada à maneira como nos relacionamos e socializamos com os outros.
“À medida que as crianças se relacionam cada vez mais entre si através da mídia digital, incluindo redes sociais e videogames, isso coloca em questão como nos comunicamos em um nível humano”, ele acrescenta.
Ele também observa que, embora coisas como videogames ajudem na construção de equipes e na resolução de problemas, elas não devem ser a única forma de interação que as crianças têm. Muito tempo em dispositivos significa menos tempo de comunicação face a face, onde expressões faciais, voz e linguagem corporal entram em jogo.
“Essas são as nuances de entender relacionamentos”, diz o Dr. Manos.
Há também uma preocupação sobre as crianças desenvolverem uma conexão ou “vínculo” prejudicial com seus dispositivos. Isso pode se manifestar através de ansiedade de separação quando são forçadas a fazer uma pausa de um jogo de computador ou de suas redes sociais. E, então – bem, prepare-se para as lágrimas.
“É interessante que algumas crianças realmente desenvolvem crises severas se uma tela for retirada”, diz o Dr. Manos. Ele acrescenta que, se você perceber que seu filho está tendo problemas de comportamento relacionados aos dispositivos, esse é o seu sinal para criar limites (mais sobre isso em um momento).
Mesmo que suas telas não sejam retiradas, o Dr. Manos também explica como o uso aumentado de redes sociais pode causar uma espécie de ansiedade e irritabilidade inatas nas crianças – sempre verificando seus telefones e esperando pela próxima notificação.
“Cada vez que seu computador toca, seu telefone vibra ou você recebe um e-mail, mensagem de texto ou notificação, sua primeira inclinação é responder”, reconhece o Dr. Manos.
Ele usa o exemplo de uma criança na sala de aula. Digamos que, apesar das regras da escola, a criança tem um telefone no bolso, no modo silencioso. Ela pode sentir o telefone vibrando, então o segura sob a mesa para dar uma olhada.
“Isso é uma distração imediata da atenção da criança, afastando-a do que quer que ela estivesse aprendendo. Isso cria um alto nível de estimulação com alertas, notificações e anúncios que podem dificultar a concentração dos adolescentes e a permanência na tarefa”, diz o Dr. Manos.
Benefícios do tempo de tela e como encontrar o equilíbrio
A exposição à mídia digital deve ser limitada para todos, embora isso varie de acordo com a idade. Para crianças pequenas, é ainda mais importante limitar o uso de tecnologia, pois tem efeitos profundos no desenvolvimento cerebral.
As recomendações atuais da Academia Americana de Pediatria (AAP) sugerem que não se deve usar mídia digital para crianças de 3 anos ou menos, e não mais de uma hora por dia para crianças em idade escolar. Quando se trata de adolescentes mais velhos, o Dr. Manos diz que é essencial que os pais estabeleçam limites razoáveis que funcionem para sua família.
Claro, também há benefícios no uso de mídia digital. Por exemplo, crianças que acham o ensino tedioso com lápis e papel podem achar que aprendem mais facilmente em um computador. A tecnologia também oferece uma maneira rápida e eficiente de se comunicar e pode fornecer atividades envolventes. Há até programas de videogame disponíveis apenas com prescrição médica, feitos especificamente para ajudar a melhorar o foco em crianças pequenas com TDAH. Mas o segredo é garantir que seus filhos entendam o equilíbrio e o contexto do que estão assistindo e com o que estão se envolvendo.
“Quando os pais realmente sentam com a criança e participam do tempo de tela, isso tem se mostrado benéfico”, diz o Dr. Manos. “E pode ajudar os pais a fortalecer seus laços com os filhos. Portanto, quando os pais estão sentados lá e interagindo com a criança e a tela, isso pode ser um benefício.”
Além disso, ele diz que os pais às vezes não percebem como o uso de sua própria mídia digital afeta a qualidade das interações com seus filhos.
“Lembro-me de um dia em que minha esposa e eu estávamos tomando café da manhã fora. Havia uma família na mesa ao lado com um bebê de apenas 6 a 7 meses de idade, resmungando para a mãe, levantando os braços. Mas os pais estavam ambos em seus telefones enquanto o bebê se esforçava tanto para tentar chamar sua atenção. Ela não conseguiu.”
Para os pais, tornar-se consciente do seu próprio uso de mídia e dispositivos pode ajudar a modelar boas práticas para seus filhos.
“As crianças aprendem empatia com os outros em interações na vida real, não no tempo de tela que é programado”, diz o Dr. Manos. “A empatia vem de pessoas reais interagindo com pessoas reais. E, claro, as pessoas não seguem um script pré-programado.”
Ele diz que é um desafio no mundo de hoje restringir a mídia e oferece esta dica aos pais: “Seja consistente. Além disso, trabalhe junto com seu filho para chegar a um acordo sobre quais são os parâmetros.”
Para ouvir mais sobre o TDAH com o Dr. Manos, ouça o episódio do podcast Health Essentials, “TDAH e Crianças”. Novos episódios do Health Essentials Podcast são publicados todas as quartas-feiras.